Todo mundo
sente-se meio perdido em algum momento da vida. Não é à toa que questões como
“quem eu sou, para onde vou” assolam a vida dos grandes pensadores há vários
séculos. Se os grandes pensadores ainda não conseguiram chegar a alguma
conclusão, também eu não me atrevo a tentar fazê-lo. Mas acho que entendo um
pouco de onde vem essa inquietação, tão inerente ao ser humano.
A verdade é que
passamos pela vida em um eterno processo de mutação. Nunca conseguiremos nos
conhecer de fato, pois estamos sempre nos adaptando, fazendo concessões,
refazendo projetos, improvisando. Nossos gostos, nossos sonhos, tudo vai
modificando conforme as circunstâncias, sem sequer notarmos. Não conseguimos
perceber o quanto mudamos. No máximo sentimo-nos perdidos em meio à tanta
correria, mas como não vemos o tempo passar, ele segue, sutil e sorrateiro,
levando consigo pequenos pedaços de nós pelo caminho. Em meio a tantas voltas -
e perdas - esquecemos quem de fato somos.
Mas não precisa terminar assim. Tudo que
a vida nos toma, ela traz de volta, de alguma forma. Em algum momento, de
repente algo passa por nós, ligeiro, numa fração de segundo. Uma música antiga,
uma foto, um cheiro... E nos arrebata de uma forma tão intensa, que nos
perdemos do tempo. Presente e passado se chocam, lembranças vêm à tona.
Lembramos dos sonhos perdidos, dos projetos deixados de lado, dos
ideais esquecidos, dos anseios do passado. Lembramos de como éramos e o
que era mais importante em outros tempos, outras circunstâncias, outras
vidas... Essa é a máquina do tempo mais poderosa que existe!
Algumas vezes precisamos reconhecer que
nos perdemos de nós mesmos. Essa é uma pequena chance que a vida nos oferece de
tempos em tempos, para olhar o passado, nos lembrar quem realmente somos,
escolher quem queremos ser e traçar um novo caminho. Para nos reconstruir,
resgatar, recriar o presente e refazer o futuro.
Posso até não saber ao certo quem eu sou.
Mas não quero nunca me perder de quem eu desejo ser.
Se não
estivéssemos tão empenhados
Em manter
nossa vida em movimento,
E pelo menos
uma vez pudéssemos não fazer nada.
Talvez um
enorme silêncio
Pudesse
interromper a tristeza
De nunca
entender a nós mesmos
E de nos
ameaçarmos com a morte. (Pablo Neruda)
.
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