Como
muitos sabem, tenho experimentado mudanças bem radicais este ano. Mudei-me de
cidade, de Estado, de vida. Nova casa, novo emprego, novos colegas, novos
sabores, novos climas, novas roupas, novos planos, novas perspectivas.
A
adaptação tem sido até mais rápida do que eu esperava. Claro que nos primeiros
dias foi bem difícil, a saudade e o sentimento de perda vieram na bagagem, e
antes mesmo que se aquietassem, deram lugar ao medo. Medo do desconhecido, medo
de não dar certo, medo de arrependimentos, medo de não conseguir. Mas o tempo
passa a junto com ele todos esses “excessos de bagagem” passam junto com ele,
dando lugar a uma sensação de vida nova, de recomeço. A partir do zero
novamente.
O que
tenho percebido é que quando estamos passando por uma mudança assim, tão
grande, não há muito espaço para lembranças e saudades. É muito diferente lembrar-se
de algo que traz saudade quando se está tão longe – geograficamente – daquele
ambiente onde aconteceu. Difícil explicar. Até consigo pensar nas coisas que
ficaram para trás, mas ao menor sinal de saudade, antes mesmo que a sensação de
dor apareça, essas lembranças se afastam ligeiras, como se fugissem de volta
para o lugar ao qual elas pertencem. A sensação de “o que passou, passou” é
mais forte que nunca e mal consigo olhar para trás. E quando tento, só o que
vejo são imagens borradas, de uma vida que não mais me pertence.
Creio
que esse é um meio de involuntariamente nos defendermos do medo do novo. Porque
no novo não há espaço para as velhas coisas. Um sai, outro entra. Um termina e
o outro começa. Enquanto nos mantemos amarrados ao passado, sonhando em reviver
as velhas coisas, a novidade de vida nunca chega a se tornar uma realidade, né?
Acho
que ainda não consegui explicar claramente essa sensação de “acesso negado” em
relação à saudade do que vivi há até poucos meses atrás. Mas que fique bem
claro que aqui me refiro a coisas, e não pessoas. Circunstâncias, e não
momentos. Minha história permanece viva em minhas memórias, mas no momento elas
afetam cada vez menos a minha vida presente. Uma nova história está sendo
construída, e eu estou tendo o privilégio de poder observar cada tijolinho
sendo colocado.
"Viver
no passado é uma ocupação tola e solitária; olhar para trás tensiona os
músculos do pescoço, e faz com que você se encontre com aquilo que não está no
seu caminho."
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