No filme mencionado no título, o protagonista vive em um tempo em que é possível excluir permanentemente da mente, lembranças seletivas. Um trauma de infância, o horror de uma guerra, uma violência sofrida, um amor frustrado. Imagine só ter a possibilidade de simplesmente apagar da mente, como se nunca tivesse acontecido. Que sonho!
Mas como na vida real ainda não existe esta tecnologia, como então podemos nos livrar dessas lembranças que nos causam dor? Eu me esforço pra entender e, mais ainda, encontrar maneiras de fazer isso. Mas a única coisa que consegui até hoje, foi perceber que não são somente as lembranças ruins que causam angustia não. Lembranças boas podem causar uma dor inimaginável.
Mesmo que a gente se esforce para guardar algumas dessas lembranças numa espécie de gaveta, no fundo de um armário, no porão, escondido no mais profundo e esquecido lugarzinho da alma, elas não podem ser apagadas. Não estão mortas, não estão aniquiladas, extinguidas. Elas podem ficar nesse lugar perdido por bastante tempo. Podem ficar esquecidas por muitos anos.
Ou não.
Elas podem simplesmente resistir à expulsão e se recusar a sair. Às vezes fingem aceitar que não são bem vindas e ficam quietinhas, disfarçadamente, como que brincando de esconde-esconde com a gente. E quando menos esperamos – ou quando esperamos, mas não conseguimos evitar – eis que uma brechinha da porta se abre e lá estão elas, vivíssimas, em alta definição, ansiosas, nos olhando com seus olhinhos brilhantes, afoitos por uma pequena chance de se libertar. E fazer seu doce estrago.
E não precisa muito. Basta um cheiro, uma voz, um objeto, um som, um gesto, um lugar... são como chaves que abrem as fechaduras da alma e libertam as lembranças, misturando por um instante, tempo e espaço, alegria e dor.
A esse momento foi dado o nome de Saudade.
Não importa o quanto nos esforcemos, lutemos, corramos desesperados, em fuga. Uma hora ou outra elas sempre nos alcançam. Na menor oportunidade, cravam suas garras no nosso coração, tentando se prender a qualquer custo. Tentando sobreviver ao esquecimento.
Pensando bem... até que “Uma Mente Sem Lembranças”, como no título do filme, possui um “Brilho Eterno” realmente tentador...
(continua abaixo...)